Falar na história de Atibaia sob a crença de sua fundação atrelada à briga entre as famílias Pires e Camargo, nos leva, necessariamente, a uma viagem no tempo, remontando cenas e datas remotas que marcaram a Vila de São Paulo em meados do século XVII.
A expulsão dos jesuítas do Colégio São Paulo, em 1640, foi o início de uma disputa de poder, manchada de ódio e sangue, entre membros dos Pires e Camargo. Os primeiros, defensores dos jesuítas; os outros, conhecidos (e temidos) como os “caçadores de bugres” – prática comum na época que consistia na captura de índios para a escravização.
Um ano depois, o líder do partido dos Pires, Pedro Taques, foi assassinado por Fernão de Camargo, seu rival, que tem como irmão, Jerônimo de Camargo.
Ocupando o cargo de Juiz Ordinário em São Paulo, em 1652, como integrante de uma câmara dominada pela família, Jerônimo foi acusado de fraude nas eleições, apresentado um recurso ao Ouvidor Geral, expondo a denúncia. Nesse mesmo ano, Leonor de Camargo Cabral, esposa de Jerônimo, foi assassinada por Alberto Pires. Segundo os estudiosos, Pires tinha como objetivo vingar a morte de Pedro Taques.
E foi a partir daí que as vindas de Jerônimo de Camargo para Atibaia foram registradas com significativa frequência nas atas da Vila de São Paulo. No ano seguinte à morte de sua esposa e ao saber da chegada do ouvidor geral da repartição sul, João Velho de Azevedo – que viaja com a intenção de estabilizar o quadro político da vila – Jerônimo “ausenta-se para lugar ignorado, levando consigo as chaves do Paço”.
Na ausência do então ouvidor, convoca-se, entre arrombamentos das portas do Paço Municipal, novas eleições. Vencem os Pires, retornam os jesuítas ao Colégio São Paulo.
Desde então, até os anos de 1660, o bandeirante “faz várias entradas pelos sertões atibaianos”, acompanhado pelo outro irmão, Marcelino de Camargo. Nas margens do rio Atubaia é instalada a fazenda dos Pires e construída a capela dedicada ao padroeiro da cidade, São João Batista, em 1654. Nasce Atibaia.