Tendo como ponto de partida a peça “A Mais Forte”, de August Strindberg, “Senhora X, Senhorita Y” propõe uma subversão do clássico e dá voz ao protagonismo da mulher. Sucesso de público e crítica em São Paulo, o espetáculo do coletivo Damas Produções estreia em Atibaia com apresentação gratuita, dia 9 de novembro, sábado, às 20h, no Cine Itá Cultural. Logo após a sessão acontece um bate-papo do elenco com o público e, no dia seguinte, 10 de novembro, das 10h às 14h, as integrantes do coletivo ministram uma oficina teatral.
O espetáculo, que já passou por Cubatão, Ribeirão Preto, Jundiaí, Pindamonhangaba e Registro, além de sessões na capital paulista, encerra sua circulação pelo Estado de São Paulo em Atibaia. A temporada itinerante acontece com apoio do Edital Lei Paulo Gustavo SP – Difusão Cultural.
Em “Senhora X, Senhorita Y” duas atrizes (Ana Paula Lopez e Sol Faganello), e uma performer sonora (Camila Couto), se lançam em um jogo pelo qual intercambiam diversos papéis, explorando com humor ácido as construções heteronormativas do feminino sugeridas por Strindberg. Indo mais longe: elas desafiam o autor pela exposição de um disparador imprevisto: o corpo lésbico reivindicando o protagonismo da cena.
Os espectadores, então, acompanham esse caleidoscópio de mulheres em uma sobreposição retórica de vozes. A ideia é colocá-las em cena sem julgamentos, abrindo espaço para a pluralidade de pensamentos. “É um jogo muito performativo. As atrizes Ana Paula Lopez e Sol Faganello transitam tanto entre papéis quanto entre si mesmas. Ou seja, tem momentos em que a voz é das atrizes e não das personagens”, detalha a performer sonora Camila Couto.
Os papéis das mulheres
Na peça “A Mais Forte”, Strindberg põe em confronto duas mulheres, a Senhora X e a Senhorita Y, porém dá voz apenas a uma delas, à mulher do lar, àquela que, mesmo supostamente traída, sai vitoriosa porque tem a seu favor a solidez da instituição do casamento; é ela quem serve e, ao mesmo tempo, domina o marido. Ambas são atrizes, porém, no texto, limitam-se aos papéis de mulher e amante, e só existem porque estão referidas a um homem.
Por ser um coletivo de mulheres, com convicção feminista, a Damas Produções se dispôs em confronto com a ficção strindberguiana. “Senhora X, Senhorita Y” não é a peça de Strindberg, e sim de uma paráfrase dela. A situação é similar, um mesmo cenário, uma mesma situação de início, mas, desta vez, Senhorita Y tem voz. Senhora X e Senhorita Y são duas mulheres que se opõem e se combinam, trocam constantemente de papéis, atravessando o tempo, falando delas na intimidade, mas também delas no mundo.
“Nós olhamos para o texto e entendemos que não queríamos montá-lo como o clássico. Nosso desejo era partir dele para questionar e revelar essas múltiplas vozes femininas que temos hoje em dia. Todos os embates que tivemos na sala de ensaio reverberaram na nossa dramaturgia”, aponta a atriz Sol Faganello.
A diretora e dramaturga Silvana Garcia explica que em “Senhora X, Senhorita Y”, as artistas se debruçaram sobre alguns dos papéis que a mulher desempenha na sociedade contemporânea, investigando aspectos muitas vezes contraditórios de sua inserção social e política, de seus investimentos afetivos e dos agenciamentos simbólicos que a cercam. “O foco é a construção do feminino – o feminino domesticado, subalterno – do modo como ele se revela por meio da relação entre mulheres. Para desafiar o autor ainda mais, rompemos o padrão da heteronormatividade trazendo para a cena o corpo lésbico: o universo da cena se amplia, já não são mais apenas duas, ou três, mas muitas vozes.”
Vozes plurais
Ao acompanhar Senhora X, que traz consigo o imaginário feminino conservador, e Senhorita Y, com a construção de uma mulher independente e feminista, numa sobreposição dialética de vozes, o público se depara com um imprevisto impensado por Strindberg, a afirmação por parte de uma das atrizes de que é lésbica e a mudança de perspectivas a partir desta afirmação: como continuar o jogo performativo e metateatral, falar sobre as expectativas sob o feminino depois de um corpo lésbico pedir o protagonismo na cena?
As cenas são costuradas com um humor ácido, debochado e ingênuo, uma marca do coletivo Damas Produções. Para o grupo, o riso aumenta a dimensão do problema, alertando o público para aquilo contra o qual devemos lutar. “O riso também é uma forma de nos identificarmos e nos desidentificarmos com as personagens rapidamente, de um jeito escorregadio”, afirma a atriz Ana Paula Lopez.
“Senhora X, Senhorita Y” trata de diversos temas que rodeiam a realidade da mulher em suas diversas fases de vida: expectativas de comportamento, maternidade, sexualidade, violência de gênero, entre outros. Leva para a cena o debate de questões relevantes relacionadas à ampliação dos direitos da mulher e da lésbica, da perspectiva de como a construção do feminino se dá na relação entre mulheres, com a sedimentação de valores (sociais, estéticos, filosóficos) que impedem o pleno desenvolvimento da consciência do ser mulher e preservam para ela um lugar de subalternidade.
Sobre a Damas
A Damas Produções é uma companhia de mulheres multiartistas fundada no ano de 2015 em São Paulo. Desde lá vêm se dedicando à produção e criação de espetáculos de teatro, trabalhos audiovisuais e ações formativas para o público adulto e infantil, com o foco em discussões de gênero e o protagonismo das mulheres. Formada pelas artistas e pesquisadoras Ana Paula Lopez, Camila Couto e Sol Faganello, em todos seus trabalhos contam com a parceria de uma equipe de mulheres e pessoas queer, desde o processo de criação, produção, até à técnica. As Damas atuam, criam, dirigem, coordenam, escrevem, movimentam, cantam, produzem e conquistam seus lugares no mundo!
Site – damasproducoes.com
Instagram e Facebook – @damasproducoes | Youtube – Damas Produções
Serviço:
Senhora X, Senhorita Y
Apresentação: 9 de novembro, sábado, 20h.
Cine Itá Cultural – Rua Visconde do Rio Branco, 51 – Centro, Atibaia.
60 minutos | 14 anos | Gratuito.
Oficina
10 de novembro, domingo, 10h às 14h.
Ata Cultural – Av. dos Bandeirantes, 392 – Vila Junqueira, Atibaia.
240 minutos | 16 anos | Gratuito.
Inscrições: docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSe0oHeZPyHdXaGu9yp2rZYI1jd3WDZQV-cd5_x3355i2JvNtg/viewform?usp=sf_link
Ficha técnica:
Direção Geral e Dramaturgia – Silvana Garcia. Elenco – Ana Paula Lopez, Sol Faganello e Camila Couto. Stand-in – Helena Miguel. Texto – Silvana Garcia, Ana Paula Lopez e Sol Faganello. Performance e Dramaturgia Sonora – Camila Couto. Direção de Movimento – Ana Paula Lopez. Direção de Arte – Sol Faganello. Iluminação – Sarah Salgado. Operação de Luz – GIVVA e Jessica Catharine. Técnica de Palco – Juliana Jurado. Costureira – Silvana Carvalho. Designer Gráfica – Manoela Silva e Natalia Sayuri. Fotografia do Espetáculo – Camila Picolo. Produção Audiovisual – Sol Faganello | Polvo. Mídias Digitais – Camila Couto. Assessoria de Imprensa – Nossa Senhora da Pauta. Direção de Produção – Sol Faganello. Coordenação do Projeto – Camila Couto. Produção Executiva – Maria Carolina Ito. Produção e Realização – Damas Produções.
Sinopse
Sob o pretexto de representar a peça A mais forte, de August Strindberg, duas atrizes e uma performer sonora se lançam em um jogo pelo qual intercambiam diversos papéis, explorando com humor ácido as construções heteronormativas do feminino sugeridas pelo texto. Indo mais longe: elas desafiam o autor sueco pela exposição de um disparador imprevisto: o corpo lésbico reivindicando o protagonismo da cena. O que diria Strindberg disso tudo?
Assessoria de Imprensa / Nossa Senhora da Pauta