A atividade física não só reduz os sintomas depressivos, como também expande a capacidade de mudança do cérebro, segundo uma pesquisa elaborada pela University Clinic for Psychiatry and Psychotherapy at Ruhr-Universität Bochum (RUB). Segundo o neurologista Fabrício Borba, o estudo mostra que a prática de exercício físico, mesmo por curtos períodos, promove benefícios clínicos verificáveis e que isso pode advir de mudanças na capacidade do cérebro de produzir novas conexões e se reestruturar.
“São necessários mais estudos para entender a extensão desses benefícios e se eles se mantém no longo prazo, porém são resultados animadores e já há evidências científicas de sobra para recomendar exercícios físicos regulares como parte de uma vida saudável”, acrescenta Fabrício.
A atividade física é uma grande aliada do nosso cérebro. O neurologista lembra de experimentos clássicos, como o de Vaynman e Pinilla publicados no European Journal of Neurosciences em 2004, que demonstraram de maneira consistente que, imediatamente após uma sessão de exercícios, ou mesmo no médio e longo prazo, pode-se notar o aumento de substâncias benéficas ao cérebro no sangue e nos neurônios.
Sintomas de depressão
- Sensação de tristeza
- Falta de vontade para realizar atividades
- Falta de energia e cansaço constante
- Irritabilidade
- Dores e alterações no corpo
- Problemas no sono
- Perda de apetite
- Dificuldade de concentração
- Pensamento de morte e suicídio
- Abuso de álcool e drogas
- Lentidão
Exercícios no combate a depressão
- Melhora cognição e raciocínio
- Reduz os sintomas de doenças neurodegenerativas
- Alivia dores de cabeça
- Auxilia no tratamento de outras doenças neurológicas
Segundo a Organização Mundial da Sáude (OMS), a depressão é um problema de saúde mental que afeta mais de 264 milhões de pessoas de todas as idades no mundo. Embora sua causa não seja definida, sabe-se que existem fatores ambientais, genéticos e também alterações na estrutura e funcionamento do cérebro desses indivíduos.
“Dentre as alterações cerebrais na depressão, supõe-se que haja efeitos tóxicos de glicocorticoides, bem como redução de substâncias denominadas fatores neurotróficos e queda na capacidade do cérebro de produzir a chamada plasticidade cerebral, habilidade do cérebro de se recuperar e se reestruturar”, informa o neurologista.
O especialista afirma que é muito difícil comprovar em pessoas vivas que algo leva à neuroplasticidade, porém métodos modernos de estimulação magnética transcraniana e avaliação clínica aprofundada permitiram que Bruchle e colegas montassem um experimento.
“Uma pesquisa sugeriu que um programa de três semanas de exercícios físicos foi capaz de melhorar os sintomas de depressão e que isso teve correlação com indícios de aumento da neuroplasticidade. São resultados animadores e que devem continuar sendo estudados”, completa.
Atividade física como aliada
As primeiras teorias para entender a doença explicam que pessoas deprimidas, possivelmente, têm menor produção de neurotransmissores em regiões específicas do cérebro, tais como serotonina, noradrenalina e dopamina. Dessa forma, medicações para depressão, de acordo com o especialista, funcionam aumentando a disponibilidade desses neurotransmissores, o que tem muitas vezes efeito benéfico sobre o humor de pacientes que têm indicação para o uso. Por outro lado, uma pesquisa desenvolvida em Harvard em 2020 revelou que pessoas fisicamente ativas são menos propensas a desenvolver depressão clínica do que sedentários, seja uma atividade leve ou não.
“Já foi demonstrado que a prática de exercícios físicos regulares é capaz de desencadear uma série de mudanças químicas no organismo e levar a um aumento positivo desses neurotransmissores, especialmente a serotonina, em regiões do cérebro relacionadas à depressão”, destaca o médico.
Além de promover o bem-estar e socialização, a atividade física libera libera dois hormônios que auxiliam no tratamento da depressão:
- Endorfina: promove sensação de bem-estar, euforia e alívio das dores;
- Dopamina: conta com efeito analgésico e tranquilizante.
Fonte: Fabrício Borba é médico neurologista e neurofisiologista clínico pela Unicamp. Doutorado em andamento em neurociências (UNICAMP). Professor de neurologia da faculdade de medicina da UNIMAX – Indaiatuba. Médico associado e pesquisador dos ambulatórios de doenças neuromusculares e neurogenética da Unicamp. Médico neurologista e eletromiografista dos AME de Campinas, Mogi Guaçu e serviços particulares. Membro da Academia Brasileira de Neurologia, Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica e Academia Americana de Neurologia. www.drfabricioborba.com.br
Fonte: EuAtleta