Pode sim haver um maior gasto calórico em treinos no inverno, como explica o fisiologista do Exercício Turibio Barros, mas o mecanismo para isso não é tão óbvio. No frio, o corpo aumenta a produção de energia para proteger-se das temperaturas baixas. Exercitar-se, claro, também proporciona uma maior produção de calor. Mas essa combinação entre temperaturas baixas e exercícios físicos só potencializa o gasto calórico se as temperaturas estiverem realmente baixas: para que haja uma produção de calor a mais para enfrentar o frio, a prática deveria acontecer com os termômetros lá embaixo, abaixo dos 10°C, pelo menos, o que é muito fora dos padrões de um país tropical como o Brasil. Fora que não se encara uma temperatura como essa sem estar com uma roupa que proteja do frio e corte o vento.
Porém, dá para tirar proveito do frio para queimar mais calorias durante os exercícios físicos, pois quando as temperaturas estão mais baixas, há mais conforto térmico para exercitar-se. Turibio Barros comenta que o exercício físico é forma mais eficiente de produção de calor. Ao exercitar-se no frio, a pessoa não gasta mais calorias porque as temperaturas estão mais baixas, mas porque o corpo terá mais conforto térmico para a atividade. Não havendo a necessidade de enfrentar a adversidade de um ambiente quente, o indivíduo terá melhores condições para praticar sua atividade. Assim, pode melhorar o seu rendimento físico, aumentar o tempo dedicado ao exercício e, consequentemente, ter um maior gasto calórico.
“Pergunte a uma pessoa que goste de corrida de rua se ela prefere correr com 15° ou 35°C. É claro que ela vai responder 15°, porque se consegue correr 10 quilômetros com 35°, com 15° consegue correr mais. Assim, terá um gasto maior de energia porque a distância e a quantidade de exercícios foram maiores. O calor também dá uma letargia. No frio, e não estamos falando de temperatura abaixo de 10°, mas do que se enfrenta em um país tropical, a disposição física é maior”, argumenta ao fisiologista.
Barros reitera que, em um ambiente mais gelado, o organismo aciona mecanismos orgânicos responsáveis pelo aquecimento do corpo. Não à toa que se treme, quando está frio. Nesses casos, é o corpo produzindo calor. Para que houvesse uma repercussão do frio que aumentasse a queima de calorias durante o exercício, seria preciso enfrentar temperaturas extremamente baixas, inferiores a 10°C, o que não se deve fazer sem estar vestido apropriadamente. Fora que exercitar-se, segundo o fisiologista, é a melhor forma de produzir calor.
Há quem reclame que nos dias frios bate uma preguiça de se exercitar. É compreensível, se a pessoa gosta de treinar bem cedinho, precisando sair da cama quentinha para encarar o ar gelado do lado de fora. No entanto, considerando que nos dias mais frios há mais conforto térmico para o corpo movimentar-se e que o exercício também é uma forma de se aquecer, Turibio Barros recomenda tirar proveito dos dias de outono e inverno para a atividade física.
“A rigor, é mais fácil se proteger frio. No calor, não há o que se possa fazer para resfriar o corpo”, ressalta Barros.
Dicas do fisiologista do exercício
Se você faz exercícios físicos regularmente, mas sente preguiça nos dias frios, ou se está em um programa de emagrecimento, por exemplo, vale encarar as temperaturas mais baixas para se movimentar e queimar mais calorias. Contudo, como outros fatores influenciam na percepção de conforto, que é algo individual e fundamental para que se tenha rendimento, preparamos algumas dicas com o apoio do fisiologista do exercício.
- Procure treinar em momentos do dia em que a temperatura esteja mais agradável. Quem tem hábito de se exercitar muito cedo, ao acordar, pode pegar o momento mais frio do dia e se desestimular. Mas, uma vez que você sai da cama e o seu metabolismo desperta também, pronto: já estará em uma condição favorável para praticar o exercício. De qualquer maneira, nas estações mais frias do ano, vale identificar o horário em que sinta mais disposição para a atividade ou esporte de sua preferência para manter essa adesão;
- Tenha em mente que o exercício físico também protege contra o frio e é a forma mais eficiente de se produzir calor;
- Escolha uma roupa que proporcione conforto térmico para a atividade. No frio, o maior problema é o vento. Quem treina ao ar livre, especialmente, precisa redobrar a atenção. Opte por roupas que cortem o vento e sejam mais impermeáveis, para se proteger;
- Cuide das suas vias áreas. Evite treinar ao ar livre se, além do frio, a umidade relativa do ar estiver muito baixa;
- Hidrate-se bem. Nos dias mais frios, também se transpira durante o exercício. Como há uma diferença grande entre a temperatura do corpo e do ambiente quando os termômetros estão lá embaixo, o indivíduo pode não perceber que está suando. Portanto, faça uma boa reposição de líquidos.
Fonte:
Turibio Barros é colunista do EU Atleta, formado em Ciências Biomédicas e doutor pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp). É pesquisador e docente da EPM-UNIFESP e fundado e chefe do setor de Medicina Esportiva da Unifesp. Tem 148 artigos científicos publicados e seis livros editados. Fundou e chefiou o setor de Fisiologia do São Paulo Futebol Clube por 25 anos, conquistando títulos como tricampeonato da Libertadores (1992, 1993 e 2005), Mundial (1992, 1994 e 2005), além de cinco vezes campeão brasileiro e oito vezes campeão Paulista. Também atuou como fisiologista da Seleção Brasileira de Futebol de 1991-1994 e é ganhador da Medalha do Mérito Esportivo do Governo do Estado de São Paulo. É CEO da Physio Science LLC – USA.
Fonte: EuAtleta