Uma das principais causas de morte no mundo, o câncer deve atingir 625 mil brasileiros a cada ano do triênio 2020-2022, segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Os números são assustadores, mas 114 mil casos poderiam ser evitados por meio de um estilo de vida mais saudável, principalmente porque a doença está associada a fatores como tabagismo, consumo de álcool, excesso de peso, alimentação não saudável e falta de atividade física, de acordo com estudo da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) no ano passado. Recentemente, uma pesquisa realizada pela Escola Paulista de Medicina da Unifesp e pela Faculdade de Medicina da USP, em parceria com a Universidade de Harvard (EUA), reforçou a importância das atividades físicas para a prevenção do câncer. O estudo, publicado no periódico British Journal of Cancer, concluiu que exercícios de força muscular praticados em academias, estúdios de treinamento funcional e boxes de crossfit podem diminuir o risco de câncer de bexiga em 20% e o de câncer no rim em 23%.
Segundo Leandro Rezende, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Unifesp e um dos autores do estudo, os motivos pelos quais as atividades de força ajudam na prevenção de câncer de rim e bexiga ainda não são conclusivos.
“Os mecanismos biológicos pelos quais os exercícios de força muscular podem reduzir o risco desses tipos de câncer ainda são pouco conhecidos. Muito se discute sobre o possível efeito hipotensor (redução na pressão arterial) do exercício de força na redução do risco de câncer de rim. Outros mecanismos biológicos também são plausíveis, como, por exemplo, a redução nos níveis séricos (sanguíneos) de insulina, mas é inconclusivo”, explica Rezende.
O oncologista Artur Malzyner, consultor científico da Clínica de Oncologia Médica (Clinonco), conta que existem explicações plausíveis sobre a relação entre os exercícios de força e a redução do risco de câncer no rim, por exemplo, mas reforça a ideia de que não são argumentos definitivos.
“Algumas explicações plausíveis sobre os possíveis benefícios dos exercícios na redução do câncer, sobretudo no rim, já foram levantadas. São elas: redução da insulina, redução da resistência à insulina, redução da inflamação e redução da pressão arterial. Essas explicações, no entanto, não são definitivas”, ressalta Malzyner.
Atividades aeróbicas também ajudam
Outro ponto importante da pesquisa é que, quando somados às atividades aeróbicas, os exercícios de força parecem ser ainda mais eficientes contra o câncer de rim.
“Sabemos que diferentes tipos de atividade física (aeróbicos e força muscular) estão associados a adaptações fisiológicas distintas. No estudo, notamos que os participantes que realizavam os dois tipos de exercícios (de força e aeróbicos) tiveram menor risco de câncer de rim do que aqueles que realizavam apenas um tipo de atividade”, diz Leandro Rezende.
Artur Malzyner, oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein e membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), também evidencia os benefícios dos aeróbicos na prevenção do câncer de rim, bexiga e outros tipos da doença.
“Os estudos clínicos e epidemiológicos sobre o efeito dos exercícios físicos na prevenção de câncer não produziram informações comparativas que permitam diferenciar a eficiência das diversas formas de atividade física. Sabemos, porém, que estudos prévios já haviam demonstrado que os exercícios aeróbicos foram eficientes em reduzir o risco de vários tipos de câncer, particularmente de rim, bexiga, cólon, mama, endométrio, esôfago e estômago”, afirma ele.
Exemplos de atividades aeróbicas
- Dançar
- Pedalar
- Caminhar
- Nadar
- Pular corda
Para diminuir o risco de doenças em adultos de 18 a 64 anos, a Organização Mundial da Saúde (OMS) faz as seguintes recomendações:
- Atividades aeróbicas: 150 minutos/semana de atividades físicas aeróbicas de intensidade moderada, 75 minutos/semana de atividades aeróbicas de intensidade vigorosa, ou uma combinação equivalente a essas intensidades.
- Exercícios de força muscular: duas vezes por semana de exercícios de força muscular, envolvendo grandes grupos musculares.
No caso da prevenção de diversos tipos de câncer, no entanto, é importante dobrar o volume semanal de atividades físicas para melhorar o resultado e reduzir o risco dessa enfermidade.
“A recomendação da OMS pode ser seguida para aqueles que desejam uma redução no risco de câncer e outras doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Apesar disso, estudos epidemiológicos apontam que, para a redução maior no risco de câncer, um volume semanal de atividade física é desejável, no mínimo o dobro da recomendação da OMS”, completa Leandro.
Fonte: Globoesporte.globo.com