Exercícios físicos ajudam a curar ressaca? E a ressaca aumenta o risco de lesões? Essas questões ficam especialmente importantes no período de férias, quando é comum que o consumo de bebidas alcoólicas aumente. Quem passa do limite e acorda com os sintomas da ressaca no dia seguinte sente bem os efeitos do álcool no corpo e na mente. Mas fica a dúvidas: sair para malhar mesmo com aquele mal-estar típico da ressaca ou não?
A resposta é não. E caso sejam exercícios vigorosos, a ressaca ainda aumenta riscos de lesão e desidratação. Vamos entender o porquê?
O médico do esporte e endocrinologista Guilherme Renke explica que os efeitos do álcool variam de acordo com a dose e tipo de bebida consumida. E que o álcool pode:
- Provocar efeitos neurológicos, como comprometimento da coordenação motora;
- Potencializar a queima de carboidratos;
- Causar desidratação
- Prejudicar a síntese de proteínas;
- Afetar a função imunológica;
- Piorar a atividade cardiovascular, metabólica e nutricional, interferindo direta ou indiretamente no desempenho e na recuperação muscular.
Especialista em treinamentos para grupos especiais, Ingrid Dias ressalta ainda que os efeitos do álcool variam de acordo com a dosagem e tipo de álcool consumido, uso agudo ou crônico, taxa de eliminação do álcool, fatores endógenos e exógenos, além do tipo de exercício realizado. Ela aponta também que o álcool:
- É depressor do sistema nervoso;
- Em altas dosagens ocasiona mudanças de humor;
- Pode causar incapacidade de julgamento e de controle das funções motoras;
- Afeta o desempenho atlético devido à desidratação, à redução de nutrientes e à interferência no sono reparador e na recuperação.
Os profissionais comentam ainda que:
- O exercício físico provoca microlesões nas fibras musculares e um aumento de fluxo sanguíneo que melhora o aporte de nutrientes para essas áreas, promovendo o fortalecimento e hipertrofia;
- Porém, o consumo de bebidas alcoólicas aumenta a produção de moléculas pró-inflamatórias e diminui as anti-inflamatórias, alterando o equilíbrio de processos inflamatórios e da resposta fisiológica do organismo. A soma desses eventos pode ocasionar lesões com respostas inflamatórias reduzidas, prolongando o tempo de recuperação.
Logo, a ressaca após excessos no consumo de álcool só piora com a atividade física e gera riscos à saúde. Afinal, o corpo está mais suscetível e frágil aos efeitos do álcool, e por isso a prática de exercícios físicos pode aumentar o risco de lesão e não ajuda a curar a ressaca. Este risco é ainda maior caso sejam feitos exercícios de carga pesada e de longa duração. Mas atividades mais leves e ao ar livre, como caminhada, andar de bicicleta ou até mesmo alongamentos corporais, podem ajudar a recuperar o bem-estar.
Existe um tempo necessário de espera antes de fazer exercícios, pós-ressaca?
A ressaca surge em média de 6 a 8 horas após o consumo excessivo de bebida alcoólica, podendo durar até 24 horas. Portanto, este seria o período ideal de tempo sem praticar atividades físicas que exigem bom condicionamento físico.
Segundo o médico do esporte, o processo de recuperação é fundamental para o desempenho e isso inclui adequado reabastecimento do glicogênio, síntese proteica, restauração de eletrólitos e da hidratação corporal.
Já Ingrid explica que a utilização de bebidas alcoólicas antes do treinamento ou competição deve ser evitada. Entretanto, se por algum motivo o indivíduo consumir bebida alcoólica, é importante lembrar que fazer exercícios visando a eliminação de líquidos não é indicado. O ideal é focar na hidratação e alimentação saudável para garantir boa recuperação. Caso ainda não esteja totalmente disposto após as primeiras 24 horas, a orientação é iniciar por treinos leves até que se sinta confortável para retomar a rotina.
Fontes:
Guilherme Renke (@endocrinorenke) é médico endocrinologista e médico do esporte, mestre em cardiologia, sócio fundador da Nutrindo Ideais (@nutrindoideais).
Ingrid Dias (@ingridbfdias) é professora da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ, coordenadora do Laboratório de Treinamento de Força (EEFD/UFRJ). Tem pós-doutorado em Clínica Médica (UFRJ) e é doutora em Ciências (UERJ).
Fonte: EuAtleta