A ansiedade, enquanto transtorno mental, pode se manifestar por meio de sintomas físicos como agitação, insônia, tensão muscular e dificuldade de concentração, além de provocar o característico sentimento de inquietude constante. E uma das maneiras de lidar com isso é a prática regular de esportes.
Estudos comprovam que o exercício físico tem efeito protetor contra transtornos mentais, seja de ansiedade, depressão e estresse.
Esportes, em particular, possuem papel importante nesse processo, oferecendo uma combinação de benefícios físicos, emocionais e sociais.
Segundo o psiquiatra Helio Fádel, isso ocorre porque os exercícios físicos, como esportes, liberam neurotransmissores relacionados ao prazer e ao relaxamento, como endorfina, serotonina e dopamina, o que ajuda a reduzir os níveis de estresse e ansiedade. Essa resposta química no corpo ajuda a interromper o ciclo de pensamentos ansiosos e a criar um estado mental mais equilibrado.
O exercício físico ainda atua como uma espécie de “meditação em movimento”, proporcionando foco no presente e aliviando a mente de preocupações.
Hermes Ferreira Balbino, psicólogo da seleção brasileira feminina de vôlei, explica que o exercício físico cria uma sensação de conexão entre corpo e mente, que ajuda a aumentar a autoestima e a confiança, a reduzir a tensão muscular e a melhorar a qualidade do sono.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que adultos realizem entre 150 a 300 minutos de atividades aeróbicas moderadas a intensas por semana. Para crianças e adolescentes, a sugestão é uma média de 60 minutos diários. No Brasil, o Guia de Atividade Física da População Brasileira reforça a prática de pelo menos 150 minutos de exercícios semanais, incluindo atividades moderadas.
Esportes que ajudam a combater a ansiedade
Embora qualquer esporte possa trazer benefícios para a saúde mental, algumas modalidades são particularmente eficazes para combater a ansiedade. Esportes que combinam esforço físico com concentração, além de proporcionarem interação social positiva, são os mais indicados.
Confira quais são recomendados:
Corrida ao ar livre
Corrida, especialmente ao ar livre, promove uma combinação de atividade física e contato com a natureza, o que reduz os níveis de cortisol, hormônio relacionado ao estresse. Além disso, a corrida libera endorfina e serotonina.
Natação
O controle da respiração na natação é uma técnica fundamental para quem sofre de ansiedade, pois ajuda a regular o sistema nervoso e a manter o equilíbrio emocional durante crises de ansiedade. A água cria um ambiente terapêutico que diminui a tensão muscular, promovendo relaxamento e sensação de segurança.
Esportes coletivos
A prática de esportes em equipe melhora a sociabilidade e o sentimento de cooperação, o que é essencial para combater a solidão e a insegurança associadas à ansiedade. O fator social é uma ferramenta de integração emocional, que auxilia na gestão da ansiedade.
Ciclismo
O ciclismo uma atividade de intensidade moderada que ajuda a diminuir o estresse, criando uma sensação de liberdade e conexão com o ambiente. O foco no movimento constante e no percurso também serve como uma distração de pensamentos ansiosos.
Remo em equipe
O remo oferece uma forma de exercício focada em controle e precisão dos movimentos, promovendo autoconfiança. A natureza colaborativa e não necessariamente competitiva desse esporte também ajuda a diminuir o foco em resultados e aliviar a pressão por desempenho.
Como evitar que o esporte se torne prejudicial
Mesmo que o esporte seja amplamente benéfico, é importante considerar o perfil de cada pessoa antes de escolher a modalidade adequada. Certos ambientes e atividades podem aumentar a ansiedade em indivíduos com transtornos mais graves, como fobias e pânico.
“Uma pessoa que apresenta agorafobia poderá ter dificuldades em treinar em academias cheias ou praticar mergulho, devido ao medo e à angústia de não conseguir enxergar saída ou forma de ‘escapar’ caso algo lhe aconteça”, alerta o psiquiatra.
Outra questão importante é que a competitividade no meio esportivo pode se tornar gatilho. Competitividade não precisa ser vista como algo negativo necessariamente, podendo ser uma oportunidade para amadurecimento, ajudando o indivíduo a lidar com frustrações e a superar os limites.
No entanto, é essencial que o foco esteja no processo e no prazer da prática esportiva, e não apenas nos resultados ou no desempenho.
“Técnicas de mindfulness e psicologia do esporte, como o foco no presente e a autorregulação emocional, são ferramentas úteis para mitigar a ansiedade relacionada ao desempenho”, reforça o psicólogo e educador físico.
Cuidados ao incluir o esporte no tratamento contra ansiedade
Antes de iniciar esporte como parte do tratamento contra a ansiedade, é fundamental que a prática seja devidamente individualizada e adaptada às necessidades de cada pessoa. É importante passar por atendimento com profissional especializado.
O esporte pode atuar como uma ferramenta complementar a outras abordagens terapêuticas, como psicoterapia e medicação, oferecendo uma via natural de alívio para o estresse e a ansiedade.
“A atividade física, quando praticada regularmente, se torna um hábito. E, ao se tornar um hábito, ajuda a pessoa mentalmente a alcançar outro padrão de comportamento. Esse padrão foge da procrastinação”, explica a psicóloga Carla Freitas.
Regularidade na prática esportiva, segundo a profissional, cria uma conexão saudável entre corpo e mente e proporciona mais disposição e equilíbrio emocional no dia a dia.
É importante considerar o histórico pessoal, os hábitos e a relação do indivíduo com o esporte, garantindo que a atividade seja incorporada de maneira adequada à rotina. Isso é mais eficaz quando o esporte escolhido faz sentido para o paciente e não se torna fator adicional de estresse.
Os benefícios para a saúde mental não aparecem imediatamente. A prática esportiva deve ser gradual e contínua, com foco em atividades que sejam prazerosas e sem cobranças excessivas de resultados. Acima de tudo, deve ser parte de um estilo de vida equilibrado, considerando também aspectos emocionais e sociais do indivíduo.
Fontes:
Carla Freitas é psicóloga clínica do público infantil e adulto. Especialista em avaliação psicológica.
Helio Fádel é médico psiquiatra, pós-graduado em Medicina do Exercício e do Esporte e integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Sociedade Internacional de Psiquiatria do Esporte. É psiquiatra do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e coordenador do Núcleo de Psicoterapia Integrada do Vasco da Gama SAF.
Hermes Ferreira Balbino é graduado em Educação Física e Psicologia, com doutorado em Ciências do Esporte. É psicólogo da seleção brasileira feminina de vôlei que conquistou a medalha de bronze nos Jogos Olímpicos de Paris 2024. É professor convidado para cursos MBA da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Fonte: EuAtleta