Sol, suor, cloro: como cuidar do cabelo em diferentes esportes

Especialista explica como proteger o couro cabeludo e os fios dos malefícios que a prática esportiva regular é capaz de provocar.

A prática regular de esportes traz inúmeros benefícios, mas exige cuidados especiais com o cabelo, seja por estética ou saúde. Diferentes atividades esportivas têm desafios específicos, da exposição ao sol ao impacto do suor, do cloro e de terra, o que leva à necessidade de uma rotina de precauções. Confira, nesta reportagem, como cuidar do cabelo ao praticar esporte.

Piscinas de esportes como natação têm cloro e outros produtos químicos nocivos ao cabelo (Imagem Ilustrativa de Jeremy Bishop por Unsplash)

A saúde capilar pode ser afetada por diferentes agentes externos durante a prática de esportes, sendo alguns gerais e outros relacionados a certas atividades. Os cuidados com o suor, por exemplo, dizem respeito a praticamente todas as modalidades. Para quem se exercita ao ar livre, há uma série de outros fatores que podem exigir maiores cuidados.

“O sol, o vento, a poeira e a poluição são os principais fatores externos que danificam a fibra capilar. Por isso, o uso adequado de filtro solar para cabelos, a lavagem com ativos hidratantes logo após o exercício e a adequação da utilização dos produtos, que deve ser recomendada por especialista, podem manter a saúde dos cabelos e minimizar os estragos inerentes a essa exposição”, destaca a médica dermatologista Joana D’Arc Diniz, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina Estética (ABME) e diretora da Sociedade Brasileira do Cabelo (SBC).

De maneira geral, medidas como a ingestão regular de água, a hidratação dos cabelos e a utilização de protetores nos casos de exposição ao sol evitam a maioria dos danos.

A seguir, serão explicados os principais danos em tópicos mais detalhados, conforme os seguintes agentes externos:

  • Suor, presente em praticamente todas as atividades físicas;
  • Radiação UV, relacionada a esportes praticados ao ar livre;
  • Cloro, para as modalidades de piscina, como natação, hidroginástica e polo aquático;
  • Sal, para esportes praticados no mar, como o surfe e a natação em águas abertas;
  • Areia e terra, para esportes de praia, como futevôlei e beach tennis, ou mesmo esportes disputados em trilhas e montanhas, caso de trail run e mountain bike;
  • Capacetes, utilizados no ciclismo e em esportes radicais.

Suor

Quase sempre presente na prática esportiva, o suor é uma adaptação evolutiva que nos permite resfriar o organismo e eliminar toxinas metabólicas do corpo com maior facilidade, entre outras funções.

Entretanto, o suor pode prejudicar a saúde capilar ao entrar em contato com os fios, provocando irritações no couro cabeludo.

O principal cuidado em relação ao suor é manter os cabelos e couro cabeludo bem higienizados, prefencialmente lavando-os logo após o exercício. No caso de encontrar lesão na região, cuja causa pode ser uma reação ao suor excessivo, a recomendação é procurar um médico especialista.

Radiação UV

O sol é altamente maléfico para qualquer tipo de cabelo e pode ser fator de incidência de câncer no couro cabeludo. Para isso, a utilização de protetores solares capilares, que devem ser reaplicados conforme as instruções do fabricante, é essencial.

Assim como os tradicionais utilizados na pele, é preciso estar de olho no fator de proteção solar (FPS) que cada produto oferece.

“Já é comprovado que se perde ao menos duas vezes mais proteínas quando se expõe os cabelos às radiações UVA e UVB, favorecendo ainda o fotoenvelhecimento da região. Além disso, o suor excessivo traz desequilíbrio porque, apesar de ser produzido pelas glândulas sudoríparas e ter como função principal a regulação de nossa temperatura corporal, pode provocar irritações no couro cabeludo”, explica a dermatologista.

Ela elenca medidas que podem ajudar a reduzir os efeitos dos raios solares e do excesso de suor produzido em atividades ao ar livre.

  • Escolher horário em que a radiação seja mais branda, como de manhã cedo ou no fim da tarde;
  • Lavar os cabelos logo após o término do exercício, eliminando parte dos problemas causados pelo suor;
  • Utilizar filtro solar capilar nos fios e no couro cabeludo;
  • Utilizar proteções físicas, como bonés, bandanas ou toucas, desde que não apertem o escalpe (parte da cabeça onde começa o cabelo) e não atrapalhem a circulação sanguínea na região. Também é interessante priorizar peças com proteção UV no tecido;
  • Não aplicar outros produtos que não os filtros para a realização das atividades.

Cloro, sal e outros químicos presentes nas piscinas

Para garantir o equilíbrio do pH da água e controlar a presença de micro-organismos como fungos e bactérias, as piscinas costumam utilizar uma série de produtos químicos. O principal e mais famoso deles é o cloro, mas também existem outros compostos químicos, como o sulfato de cobre.

Apesar de exercerem uma função positiva para a saúde de quem entra na água, essas substâncias podem causar uma série de danos aos fios e ao couro cabeludo, afetando inclusive a coloração.

Entre os possíveis efeitos negativos quando o cabelo não é cuidado adequadamente após este tipo de exposição estão:

  • perda da queratina;
  • alteração da elasticidade;
  • perda da umidade natural;
  • desbotamento;
  • rigidez das fibras;
  • ressecamento;
  • quebras e pontas duplas;
  • perda de brilho;
  • aspereza;
  • irritação no couro cabeludo.

“Muitas vezes, a prática de natação pode afetar a cor dos cabelos e frequentemente se atribui à ação do cloro, que pode deixá-los esverdeados, sobretudo os loiros, especialmente os tingidos. Mas a causa, na verdade, é o sulfato de cobre, agente usado para tratar a água. Esse metal se liga à queratina dos fios, resultando neste tom. Nos cabelos escuros, essa reação não é visível”, detalha a diretora da ABME e da SBC.

Há ainda as piscinas em que, além da presença do cloro, a água também é tratada com sal. De acordo com a especialista, a água clorada e salgada é especialmente corrosiva, já que a associação do cloro com o cloreto de sódio amplifica os efeitos das duas substâncias.

Nestas situações, para aqueles que não adotam a touca protetora, o ideal é que, a cada mergulho, a pessoa tome uma ducha de água doce para remover os agentes agressivos.

“A associação do cloro com o cloreto de sódio (sal) potencializa ainda mais os efeitos de cada um. Todo tipo de cabelo sofre com esse agente externo, porém cabelos com processos químicos, tanto de oxidação quanto de redução, como coloração, escovas e alisamentos, são mais suscetíveis a esses danos”.

O mesmo é indicado para quem pratica as atividades na água do mar, como natação de águas abertas e o surfe. Nesses casos, o sal não é combinado com o cloro, mas com outros fatores potencialmente prejudiciais, como o vento e o sol, que podem promover desidratação, envelhecimento e ressecamento dos fios.

“Sempre sugiro o uso de protetores físicos para os fios com tecidos leves, aplicação de protetor solar sobre os fios antes do contato com a água e, se possível, reaplicação a cada duas horas para cabelos médios e longos. No caso dos cabelos longos, é melhor que os prendam em um rabo de cavalo não muito apertado, logo após a aplicação”, recomenda a especialista.

“Para evitar a desidratação excessiva dos fios por causa do sal que se deposita sobre os fios, o ideal é lavar os fios com água doce antes que sequem sob o sol porque o sal também enrijece as hastes e isso facilita a quebra dos fios. O excesso de sol e sal sob os fios provoca queimadura e, consequentemente, o envelhecimento dos cabelos, independente da cor, mas vale ressaltar que cabelos tingidos em tons claros sofrem mais danos, podendo inclusive haver mudança na cor”, complementa.

Areia e terra

Ainda na praia, há modalidades bastante praticadas pelas areias brasileiras, casos dos cada vez mais populares beach tennis e futevôlei. Além deles, também há esportes em que há contato com a terra, como trilhas e mountain bike.

Segundo a médica, tanto a terra quanto a areia podem grudar no couro cabeludo, provocar coceira e, com isso, correr o risco de arranhar ou mesmo contaminar a pele mais sensível da região onde nascem os fios.

Nesses casos, são recomendados o uso de chapéus ou capacetes para proteção e a aplicação do protetor solar capilar como principais soluções de prevenção.

Uso de capacete

Embora sirva como proteção física tanto para os raios solares quanto para a terra e a areia, o capacete pode exigir cuidados próprios. A produção excessiva de suor, decorrente das limitações da microcirculação sanguínea impostas pelo aparato de proteção, pode chegar a provocar até a queda dos cabelos.

Portanto, é importante utilizar um equipamento com tamanho e ajuste adequados, evitando prejudicar ainda mais a região, e lembrar sempre de hidratar bem os fios após o exercício e no dia a dia.

“Os cabelos contêm várias cavidades em que as moléculas de água se alojam, sendo considerado um elemento altamente hidrofílico (que atrai a água). Quando traspiramos pelo uso do capacete pelo e exercício físico, estamos aumentando a excreção de suor e compromentendo o equilíbrio do couro cabeludo e fios”, detalha a médica.

Ciclistas mulheres, de forma geral, enfrentam riscos maiores do que os dos homens por possuirem cabelos compridos e realizarem processos químicos com maior frequência.

Para evitar maiores transtornos em decorrência do uso prolongado dos capacetes, a especialista recomenda:

  • Uso de substâncias e nutrientes que auxiliam na alimentação correta do bulbo capilar;
  • Procedimentos que auxiliam na suavidade, no brilho e na resistência e melhoram a saúde do cabelo;
  • Hidratação mais profunda com produtos de pH ácido, que realinham as cutículas, mantêm o teor hídrico dos cabelos e oferecem brilho;
  • Manter o equipamento sempre bem higienizado para evitar a proliferação de fungos e bactérias.

Fonte:

Joana D’Arc Diniz é diretora científica da Sociedade Brasileira de Medicina Estética (ABME) e diretora da Sociedade Brasileira do Cabelo (SBC). Tem uma clínica especializada em dermatologia estética e tricologia médica e é coordenadora adjunta da pós-graduação em Medicina Estética da Faculdade Souza Marques.

Fonte: EuAtleta