O inverno deste ano, que terminou nesta semana, trouxe altas temperaturas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, baixos volumes de chuva e, consequentemente, baixa umidade relativa do ar. O impacto dessa condição é sentido pelas populações urbanas e rurais, nesse caso, mais especificamente as plantas.
Dados do Instituto Agronômico (IAC), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, mostram que em 2020 houve mais dias com temperaturas altas, condição que elevou a temperatura média em torno de três graus neste inverno, em Campinas e, em geral, na região Sudeste e Centro-oeste também foi observado aumento nas temperaturas médias. Também foram verificados baixos volumes de chuva desde junho, o que contribuiu para queda na umidade relativa do ar.
De acordo com a pesquisadora do IAC Angelica Prela Pantano, a umidade relativa do ar resulta da elevação das temperaturas e da baixa ocorrência de chuvas. “Temos visto que as temperaturas pontuais, registradas no decorrer do dia, estão mais altas neste ano”, afirma. Essas temperaturas pontuais influenciam na média. Elas continuam razoáveis, não estão fora do que ocorre em anos anteriores, porém houve muito mais dias com temperaturas altas e isso provocou a elevação da média neste inverno.
Em Campinas, a umidade relativa do ar durante a estação apresentou as mesmas características de anos anteriores. A máxima ficou em torno de 80% a 85% e a mínima, em média, de 31% a 34%. Segundo Angelica, o que variou foi a ocorrência de número de dias com umidade relativa considerada muito baixa, inferior a 50% e até mesmo a 20%.
“Analisando os últimos cinco anos, em 2020 foi o ano com maior ocorrência de dias com umidade relativa do ar abaixo de 20%”, diz a pesquisadora do IAC, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA).
Chuvas
Durante o inverno deste ano, cerca de 25 dias apresentaram umidade relativa do ar abaixo de 20%; assim como nas faixas de 20% a 30% e de 30% a 50%. “Ou seja, em praticamente 3/4 do período de inverno, a umidade relativa do ar esteve abaixo dos 50%. Esses níveis são considerados normais para essa época e vem ocorrendo com frequência nos últimos anos”, relata.
Em relação às chuvas, são esperados volumes abaixo de 50 milímetros, nos meses de julho e agosto. De acordo com a pesquisadora, o retorno das chuvas é previsto para setembro com a chegada da primavera, porém depende de fatores climáticos, como entrada de frentes frias e úmidas, o que nem sempre ocorre logo no início de setembro. Normalmente, as chuvas se intensificam a partir de outubro.
Impactos nas culturas
Angelica Prela Pantano conta que a falta de chuvas leva à deficiência hídrica no solo, que vem resultando no atraso dos próximos plantios. O solo está preparado, mas o agricultor fica esperando porque corre o risco de plantar e perder as sementes, caso demore para chover. “Os produtores que irão plantar a próxima safra de grãos, ainda estão esperando uma chuva melhor”, diz.
A pesquisadora comenta que a frente fria prevista para a semana de 20 a 26 de setembro poderá trazer chuvas, mas ainda não serão suficientes para suprir a necessidade do solo. “Caso essas chuvas realmente cheguem, ainda será necessária a ocorrência de chuvas mais constantes e um volume elevado, para o solo recuperar a umidade de forma satisfatória”, explica.
Algumas regiões dos estados de São Paulo e Minas Gerais já passam de 90 dias sem registro de chuvas significativas, o que interfere diretamente na qualidade do ar e na agricultura, além de favorecer as queimadas.
Hortaliças
No caso das hortaliças, a condição climática deste inverno eleva a evapotranspiração e a planta começa a perder muita água para a atmosfera, a fim de compensar a falta de umidade. Essa condição requer o aumento do número de irrigações.
“Na região de Campinas, há muitas áreas com hortaliças a céu aberto e isso pode levar ao aumento do custo da produção por exigir maior irrigação”, comenta a pesquisadora. A quantidade de água necessária na irrigação é baseada na deficiência hídrica do solo. “Em plantações menores esse controle não é feito por equipamentos, mas eles têm noção da quantidade por experiência”, diz.
Segundo o pesquisador do IAC Luís Felipe Villani Purquerio, a baixa umidade relativa requer outros cuidados por proporcionar condições para o aumento da incidência de pragas no inverno, por exemplo, ácaro em morango e em alface. Ocorrem também alguns fungos, como o Oidiopsis, que infecta pimentão, tomate e outras hortaliças em ambiente seco em cultivo protegido.
Quando atacadas, as folhas ficam amareladas e os danos podem causar desfolha de até 75% e queda da produção de até 40%. “De maneira geral, a baixa umidade do ar torna as pulverizações menos eficientes. Recomendamos pulverizar nas horas mais frescas do dia e de maior umidade, isto é, no início da manhã e fim da tarde”, orienta.
Fonte: Portal do Governo do Estado de São Paulo