As cenas de gatinhos passando na frente das câmeras durante reuniões virtuais de trabalho têm se tornado cada vez mais comuns nos tempos de isolamento para evitar a disseminação da Covid-19.
Para entender como este período de isolamento pode afetar a vida dos gatos, o G1 conversou com médicos veterinários e especialistas em comportamento felino.
As principais dicas são:
- Tente minimizar as interferências na rotina do animal;
- Crie um ambiente agradável perto do seu local de trabalho para o gato ficar;
- Crie uma rotina de brincadeira nos horários específicos e com brinquedos diferentes;
- Inclua as crianças na rotina de cuidados e de brincadeiras do animal (com supervisão de adultos);
- Continue com a alimentação normal, cuidado com excessos de ração e petiscos;
- Respeite a individualidade do gato.
Por que a rotina é importante?
A principal recomendação é que os tutores, os donos dos gatos, tentem minimizar as interferências na rotina do animal.
“Gato é um animal territorialista. Ele determina o território com os recursos que precisa na natureza e faz o mesmo dentro de casa. Para o bem-estar dele, esse controle territorial é crucial e está relacionado com a rotina, com a percepção temporal”, afirma Juliana Damasceno, doutora em comportamento felino na empresa WellFelis.
Por isso, se o gato tem o hábito de tirar soneca durante a tarde, não fique acordando o bichinho. “Esse momento de inatividade é muito importante para eles”, diz Juliana.
As cenas de gatinhos deitados em notebooks pode parecer fofa ou perfeita para uma foto no Instagram, mas demonstram muito sobre a relação do gato e do dono.
“Provavelmente são gatos que não têm aquele contato diário e estão querendo chamar atenção, aproveitando que o tutor está em casa”, conta a doutora. “Isso acontece porque o tutor não tem os horários de atenção consistentes.”
Neste caso, a recomendação é aproximar a caminha do local de trabalho, sem dar bronca no gato: “Você pode falar ‘não’, mas a repreensão não é entendida como ‘estou errado. Você coloca a caminha no lugar certo e ele deve ir pra lá.”
“O gato é muito fácil de redirecionar desde que você seja sutil assim como ele é. Não adiantar usar a mesma comunicação dos cães com os gatos. Não vai ser a mesma resposta, é uma espécie muito diferente.”
Uma saída é antecipar o problema e criar espaços agradáveis para eles perto do novo local de trabalho em casa.
Com quatro gatos em casa, ela tem prateleiras para felinos, colocou uma caminha em cima da mesa e deixou outra no chão. Juliana conta que todos estavam descansando bem pertinho dela, mas sem incomodar nada durante a entrevista:
“Faça um local confortável, aconchegante pro gato, perto de você, mas não fique interagindo fora do horário.”
Quanto ao horário de brincar, Juliana afirma que o pico de atividade dos gatos acontece no início da manhã e à noite, momentos em que a família normalmente está em casa. É importante conservar esses momentos para as brincadeiras até para o gatinho não sofrer quando a quarentena passar.
Como sei se o gato está irritado?
Para Juliana Gil, veterinária comportamentalista da clínica PsicoVet, os gatos podem ficar mais irritados com a família em casa, se as pessoas tentarem interação o tempo todo.
“O que acontece é que as pessoas estão em casa em um momento emocional difícil, então a tendência é que elas vão procurar ficar como gato, abraçar, pegar no colo por mais tempo”, afirma Juliana.
Fugir de um carinho, ficar de costas para o dono, passar mais tempos nos cantinhos preferidos e isolados são sinais que o animal pode estar irritado.
Carlos Gabriel Dias, da clínica veterinária The Cat From Ipanema, diz que é necessário que os donos lembrem da personalidade dos seus gatos. “Se você olha para o animal e ele está mostrando comportamentos diferentes do habitual pode ser um sinal também”, afirma.
Comer e dormir demais e deixar de fazer coisas que os animais normalmente fazem como subir em prateleiras, arranhar, também podem ser indicativos da necessidade de ajuda médica.
Respeitar os espaços que os gatos determinam como deles também é importante para evitar a irritação dos animais. “Eles precisam ter a certeza de um local em casa que ninguém vai acessar. Então se eles estiverem lá, não é para mexer”, explica.
Relação de crianças x gatos
Se a relação entre crianças e gatos não era muito harmoniosa em dias normais, a casa pode ficar um caos neste momento de quarentena.
Trazer as crianças para a rotina de brinquedos e de manutenção de limpeza do gato é uma sugestão da especialista Juliana Damasceno. “Tenho feito brinquedos para gatos em casa, com caixa de papelão. As crianças podem ser envolvidas para pintar e até construir junto mesmo”, afirma.
“É preciso que as atitudes sejam recompensadoras para os dois e sejam previsíveis, consistentes e positivas pro gato.”
Ela lembra que gatos não gostam de ser apertados e nem toda hora ficar no colo, movimentos comuns feitos pelas crianças: “Tem que ensinar que ele gosta de carinho onde ele está, gosta de carinho na cabeça, no queixo, nas bochechas, brincadeiras com varinhas, penas.”
“A gente tem que envolver a criança na brincadeira e na responsabilidade”, completa Juliana Gil. Ela também relembra da importância da supervisão de adultos nessa interação gatos e crianças.
Por falar em brincadeiras, Dias sugere que as pessoas separem dois momentos por dia para brincar: “Você brinca com os gatos e vai alternando os brinquedos, assim eles ficam sempre interessantes e estimulantes pro animal.”
“Este é o momento de aproveitar que você está em casa para fazer tudo que o veterinário pede, mas você sempre diz que não faz porque não tem tempo”, ensina o veterinário.
Quando devo levar na clínica veterinária?
Os veterinários estão abertos nesta quarentena, porque são considerados serviços essenciais, mas em que situações se deve levar o gatinho? Dias prefere não cravar sintomas ou situações específicas, mas pede bom senso.
“Assim como pedem que pessoas exibindo sinais de gripe fiquem em casa para não deixar hospitais superlotados, os animais precisam ficar em casa, caso não apresentem sintomas muito graves”, explica.
Ele diz que a frequência de pacientes na clínica em Ipanema não caiu, mas também o foco é em gatos mais idosos que já têm vários problemas de saúde.
Entre as mudanças no sistema de trabalho, Dias destaca a higienização do ambiente: “Pedimos também que as pessoas venham sozinhas, fiquem do lado de fora da sala. Temos feito atendimentos rápidos e respeitamos o horário rigorosamente para reduzir o tempo fora de casa.”
Fonte: G1.globo.com (Leia a matéria completa)