Há um ano, a poodle Pity não conseguia andar por causa de um problema na articulação. A cachorra de sete anos passou por vários tratamentos e tomou muitas medicações, até que um médico veterinário prescreveu a ela o óleo feito à base de cannabis – comumente conhecida como maconha.
“Agora, ela anda e corre mesmo com as patinhas deslocadas. Ela fica muito bem. Tem uma vida normal”, diz Alessandra Godeguezi de Lima, tutora de Pity, que vive em Bauru (SP).
Extraído da planta da maconha, o óleo de canabidiol tem propriedades terapêuticas capazes de atuar em humanos e animais. Graças ao seu potencial farmacológico, a substância é prescrita no combate a várias doenças.
“Nos tratamentos que a gente impõe, já tratamos a parte psicológica do animal, obstruções uretrais, problemas respiratórios, comportamentos inadequados. É muito amplo. 90% dos estudos mostram efeitos satisfatórios com o uso da cannabis”, explica o médico veterinário Germano Boldorini Sposito.
O princípio ativo já é regulamentado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento humano desde 2015. Mas o uso em animais ainda é avaliado.
Por isso, segundo o Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP), apenas médicos e profissionais da odontologia são respaldados por lei a prescrever o óleo de canabidiol.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), responsável pela regulação de produtos veterinários, mostra-se favorável ao registro dos itens à base de cannabis. Segundo Talita Nader, presidente do grupo de trabalho do CRMV-SP, as tratativas estão avançadas.
“O que a gente entende é que a partir do momento em que a Anvisa nos inclui dentro do hall de prescritores, pelo menos os colegas que já estão prescrevendo vão se sentir mais seguros”, diz Talita.
Apesar disso, os médicos veterinários que já prescrevem o óleo afirmam estar respaldados pela ciência. O código de ética da profissão também traz segurança na hora de receitar o produto.
“O veterinário tem por lei a obrigação de tratar o animal da melhor forma, de utilizar as melhores terapias, de acordo com o entendimento dele. Dentro do código, existe uma regulamentação que dá liberdade para o veterinário decidir qual tratamento ele achar melhor”, explica o advogado Dalton Marquez.
No Congresso Nacional, três projetos de lei a respeito do tema estão sendo avaliados há nove anos. “Não existe nenhuma lei [na medicina veterinária] falando que é proibido usar essa substância”, diz Dalton.
Nathália Carreira também prescreve o óleo para seus pacientes. Mas, ela conta que sempre estuda bem o diagnóstico antes de tomar a decisão.
“Tenho pacientes que tomam dez doses diárias e outros que tomam uma. É muito individual. Não é uma fórmula mágica. É totalmente empírico. É observação e acompanhamento o tempo todo”, explica a especialista.
Há mais de dois meses, Nathália trabalha na saúde da Juju. O animal, da raça labrador, tem diabetes e displasia. Antes, ela nem conseguia andar. Mas o novo tratamento mudou muitas coisas, inclusive a alimentação.
“Ela está bem melhor. Corre atrás de bolinha, cava no terreno que a gente tem… tudo que ela não fazia antes. É super visível a melhora dela”, diz a tutora Danielle Fantini.
Cannabis medicinal
Cannabis medicinal é o nome dado aos compostos da maconha usados na fabricação de medicamentos, como cápsulas, jujubas e óleos.
Dentro os compostos presentes nesses fármacos, estão o tetrahidrocanabinol (TCH), responsáveis pelos efeitos psicoativos típicos da maconha, e o canabidiol (CBD), que não produz esses efeitos.
Fonte: G1.globo.com