Além de passarem parte da vida em abandono, cães e gatos mais velhos enfrentam uma triste realidade nos abrigos: a dificuldade em encontrar um lar. Por isso, o g1 conversou com especialistas para explicar os benefícios de adotar um animal já adulto ou até mesmo um “idosinho”.
Aproximadamente 130 cachorros adultos vivem hoje em um abrigo da União Internacional de Proteção ao Animal (Uipa) de Itapetininga (SP). Quase 70% dos cães abrigados têm mais de quatro anos, comenta a presidente da ONG, Fernanda Nery.
De acordo com ela, é justamente a partir desta idade que os cães começam a ser rejeitados pelos adotantes. “É horrível. As pessoas deveriam dar mais chances aos [cachorros] mais velhos”, lamenta.
“Eu acho que tem um preconceito muito grande. A pessoa, normalmente, quando adota, nem imagina o trabalho que vai ter para deixar o filhote ‘pronto’, vamos dizer assim”, diz o veterinário Reynaldo Landgraf.
Diferentemente dos filhotes, a ONG consegue indicar um animal adulto conforme as possibilidades do adotante. “As pessoas querem os filhotes por serem fofinhos, pequenos, mas eles são uma caixa de surpresas. Não tem como saber sobre a personalidade do animal que está levando. Um pet mais velho já vem com ‘manual de instruções'”, explica Fernanda.
Resgatada pela Uipa, a cadela Penélope, que chegou com filhotes ao abrigo, viu todos eles sendo adotados enquanto esperava por um novo lar. Aos quatro anos, a cachorrinha, então, encontrou a família Barra, que logo se apaixonou por ela.
Em setembro de 2022, a “gateira” Sandra Barra, que não tinha tempo para dedicar a animais filhotes, se encantou por Penélope. “Ela tinha uma carinha carente e de quem estava precisando de um lar. Foi amor à primeira vista”, relembra.
Benefícios de adotar um ‘idosinho’
Porte físico
Um dos fatores que podem influenciar os adotantes a escolher um animal adulto é a dúvida com relação ao porte.
“Geralmente as pessoas ficam com dúvidas sobre o tamanho que aquele pet vai alcançar quando grande. Quando você adota um adulto, isso já não é um problema”, comenta o veterinário Luiz Felipe.
Companhia imediata
O veterinário ainda ressalta que, quando adotado de uma ONG responsável, o cão ou gato adulto já está devidamente vacinado.
“Se o animal é adotado de uma ONG como a Uipa, uma ONG séria, onde todos os animais são vacinados, ele já teria este ciclo de vacinas completo. Podendo acompanhar o tutor a todo momento”.
Comportamento definido
Conhecer o pet através de algum abrigo favorece a conexão entre a personalidade do tutor e a do animal. A presidente da Uipa reforça que adotar um cãozinho mais velho pode ser uma opção para quem quer um pet tranquilo.
“Para um casal de idosos, por exemplo, ou pessoas que saem muito de casa, o ideal seria ter um animal com menos energia”.
A tutora de Penélope relata ter tido uma ótima experiência com relação à adaptação de sua companheira ao seu lar. “Ela é muito dócil, quase não late, e, quando late, é para proteger a casa. Se dá super bem com nossos gatos, [ela] tem medo mas também tem respeito por eles”, conta.
Salvar vidas
Adotar um animal idoso é um ato de compaixão, reforça Luiz. “Adotando pets idosos, você está salvando vidas. Eles são os animais que ficam mais tempo nos abrigos”.
Após adotar um cão adulto, Sandra ressalta as inúmeras dificuldades enfrentadas pelos animais durante a vida. Para ela, ter um tutor que ofereça amor, carinho e conforto é o que torna a adoção de pets adultos tão especial.
O veterinário Reynaldo relembra um episódio em que adotou um cão adulto. “O Pajé foi um pit bull que tive o prazer de resgatá-lo de uma rinha. Ele chegou para mim todo agressivo, todo machucado, com traumas, foi um tempo de reabilitação. Consegui reabilitá-lo, deixá-lo bem para voltar a confiar nos humanos. Foi um cachorro espetacular”.
“Eu sinto que esses cachorros resgatados são mais agradecidos, não sei se é porque já passaram os traumas. É diferente”, diz Reynaldo.
Fonte: G1.globo.com