Justiça suspende obras de asfaltamento de ruas de Piracaia, após protestos de moradores

Uma decisão liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo determinou que sejam suspensas as obras para asfaltamento das ruas de Piracaia, cidade no interior de SP. A decisão foi publicada na segunda-feira (9). Cabe recurso.

Na semana passada, dezenas de moradores da cidade protestaram contra as obras e defenderam que os paralelepípedos sejam mantidos. Os moradores alegam que os blocos fazem parte da história e da cultura da cidade – veja mais abaixo.

Moradores alegam que os blocos fazem parte da história e da cultura da cidade (Foto: Reprodução)

Segundo a Justiça, foi movida uma Ação Civil Pública pela Associação de Desenvolvimento Turístico de Piracaia. Na ação, a associação alegou que a prefeitura “vem realizando alteração abrupta e temerária do pavimento de paralelepípedos no Centro Histórico da cidade, sem qualquer Estudo de Impacto de Vizinhança e sem consulta prévia ao COMTUR”.

Ainda na ação, a associação afirmou que “embora o pavimento de paralelepípedos não esteja tombado formalmente, integra o patrimônio cultural do município, por compor o traçado urbano e o ambiente estético tradicional, os quais devem ser restaurados e protegidos para garantir sua conservação às presentes e às futuras gerações”.

Por fim, a associação disse na ação que “a execução da pavimentação asfáltica, realizada de maneira arbitrária, sem a devida elaboração de estudo prévio de viabilidade técnica, tampouco a obtenção das necessárias manifestações dos órgãos competentes, configura conduta temerária e caracteriza grave risco de degradação ambiental”.

A juíza Carolina Braga Paiva, da 2ª Vara do Foro de Piracaia, avaliou que “embora o pavimento de paralelepípedos não esteja formalmente tombado, é possível reconhecer sua relevância cultural e histórica para o município, enquanto parte integrante do traçado urbano tradicional”.

De acordo com a juíza, “a substituição definitiva do pavimento original pelo asfalto pode acarretar a descaracterização do bem coletivo antes mesmo da instrução adequada do feito, com prejuízo irreversível”.

“Além disso, não se vislumbra perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão com a suspensão temporária da obra, ao menos até que seja esclarecida a regularidade dos atos administrativos e da execução contratual. Ao contrário, o não deferimento do pedido de tutela de urgência, com a consequente continuidade da obra, pode ocasionar dano irreversível ou de difícil reparação, caso o pedido seja acolhido ao final da instrução”, completou a juíza.

A juíza determinou a suspensão da obra de pavimentação do Centro Histórico da cidade de Piracaia, sob pena de multa diária de R$ 1 mil por dia de descumprimento, até o limite inicial de R$ 50 mil. Caso a cidade seja multada, o valor deve ser destinado ao Fundo de Direitos Coletivos estadual.

O g1 acionou a Prefeitura de Piracaia, mas, até a última atualização desta reportagem, não obteve retorno. A matéria será atualizada caso a prefeitura se manifeste.

Protestos

Em Piracaia, grupos de moradores são contra a colocação de asfalto nas ruas e defendem que os blocos de paralelepípedos sejam mantidos na cidade.

Com cartazes dizendo “Nossas pedras são predestinadas”, “Asfalto cobrindo nossa história” e “Asfalto não”, dezenas de moradores saíram às ruas nos últimos dias, protestando contra a colocação de asfalto nas ruas do município. O caso entrou até na Justiça, para barrar o avanço do asfalto na cidade.

Segundo os moradores, são vários os motivos para o protesto. O principal é perder as características da cultura e da história da cidade, das quais os paralelepípedos fazem parte.

Também há uma preocupação com a possibilidade de enchentes, acidentes de trânsito e impacto no turismo, diante da mudança do pavimento. Os moradores se queixam ainda de não terem sido consultados sobre a mudança por meio de audiências públicas.

Apesar dos protestos, a prefeitura afirma que trechos de 17 ruas do centro histórico estão sendo asfaltados por cima do pavimento de paralelepípedos. Apenas algumas vias, próximas às igrejas Matriz e do Rosário, serão preservadas – agora, as obras foram suspensas após decisão judicial.

Alguns coletivos e associações, principalmente os que são ligados ao meio ambiente e ao turismo, também se mostraram contra a obra ou pelo menos contra a maneira com que ela está sendo feita.

A Luciana Cury, presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente, diz que a nova pavimentação vai facilitar casos de enchente e alagamentos.

“Os paralelepípedos, por serem blocos próximos, têm, por mínimo que seja, uma questão de drenagem. Com o asfaltamento, o que acontece é que essas ladeiras vão ficar completamente impermeabilizadas”, afirmou Luciana Cury.

Um advogado que representa a associação de desenvolvimento turístico de Piracaia questiona a falta de discussão do projeto com a população e teme um impacto no setor após a conclusão da obra. O grupo entrou com uma ação na Justiça tentando suspender os trabalhos.

“O paralelepípedo está implantado aqui desde 1920, então o centro histórico, onde tem as igrejas antigas, tudo do seculo XIX, tem uma condição paisagística que influencia no turismo da cidade. Começou essa obra muito rápida, sem ouvir a população, ainda que possa ter uma maioria que aceite, não foi trazido para o debate”, narrou Edmilson Armellei, advogado da associação do desenvolvimento turístico de Piracaia.

A empresa Cepavi venceu a licitação para fazer a pavimentação pelo valor de R$ 962 mil, no prazo total de até 120 dias.

A prefeitura de Piracaia defende a necessidade da obra e, sobre os possíveis problemas com enchentes, a prefeitura nega e diz que foi feito estudo de impacto ambiental.

“A ideia é melhorar a mobilidade, nós temos aqui falta de mão de obra de calceteiro, já chamamos diversos no concurso e a gente não consegue preencher vaga, então há uma necessidade de ter um asfalto onde eu consiga ter uma manutenção melhor, uma mobilidade melhor e isso não traz nenhum malefício ao que já está consolidado”, defendeu Reginaldo Grunwald, secretário de Obras, Meio Ambiente e Agricultura de Piracaia.

“Há estudos científicos, biográficos, todo apoio técnico que a gente teve aqui, para fazer o estudo de impermeabilização e que comprova que o asfalto, para o pavimento que hoje existe, a diferença é muito pouca. Então vai aumentar um pouco a velocidade superficial do escoamento, mas não é esse o problema da drenagem. A gente vai fazer um reservatório subterrâneo, que faz com que eu capte essa água, amortize a chegada da água no rio, para que siga o fluxo normal e vá tendo a receptividade dessa água ao longo do tempo”, completou.

Fonte: G1.globo.com