Perda de memória e falta de foco são reclamações recorrentes em pacientes pós-covid no consultório da nutricionista Julia Marques. A covid-19 é uma infecção bastante nova, com estudos limitados em relação ao tempo de análise e à amostra. Mas Julia lembra que deficiências nutricionais podem gerar prejuízos à saúde cognitiva. Para garantir a qualidade das capacidades intelectuais para quem pegou e para quem não pegou o SARS-CoV-2, a nutricionista estimula o consumo de gorduras boas, selênio e zinco, nutrientes que podem ser encontrados no abacate, azeite extravirgem e nozes.
Um processo infeccioso, como o gerado pela covid, provoca um excessivo estresse oxidativo. Na prática, isso significa que radicais livres, que aceleram o envelhecimento das células, são liberados em maior quantidade no organismo. Com uma alimentação saudável e natural, é possível ajudar a prevenir esse quadro.

Só que Julia alerta sobre a importância de tratar os sintomas de maneira individual. Para ela, é importante acolher o paciente, entender seu contexto e rotina para, a partir dessas respostas, traçar estratégias. Após a covid, dependendo da queixa do paciente e dos resultados dos exames, pode ser necessário suplementar com nutrientes antioxidantes, mas isso não é regra. Julia inclusive alerta para a importância do uso consciente de vitaminas. Com a pandemia, a nutricionista ouviu relatos de pessoas comprando vitaminas C e D, por exemplo, sem necessidade e prescrição médica.
“A suplementação pode ser algo negativo, se não houver necessidade. É importante ter orientação, senão a gente não sabe nem se esses minerais e vitaminas estão sendo absorvidos. Com ela, você evita o estresse oxidativo, que é importante para o corpo se adaptar a mudanças. A atividade física, por exemplo, gera um estresse oxidativo nos tecidos e nas células que é positivo”, explica a nutricionista.
Um estudo reuniu mais de sete mil materiais relacionando os nutrientes necessários para fortalecer e garantir uma memória saudável. Segundo a pesquisa, as vitaminas A, C, D e E, ômegas 3 e 6, ferro, zinco e selênio são fundamentais. Outro artigo científico ainda acrescenta que quem se alimenta a partir da dieta plant based tem 73% menos chances de desenvolver casos moderados a graves de covid.
E como funciona essa dieta? É uma alimentação colorida e natural, que evita ultraprocessados. Tem, na sua base, vegetais, cereais, legumes, arroz e feijão. As proteínas consumidas têm, nesse tipo de alimentação, origem vegetal ou de ovos e peixes. Na rotina alimentar, há consumo inteligente de oleaginosas, gordura boa e carboidratos nutritivos.
Nutrientes e alimentos amigos da memória
Para potencializar a memória, a nutricionista recomenda uma estratégia antioxidante.
Gorduras boas
- Abacate
- Azeite extravirgem
Selênio e zinco
- Leguminosas
- Oleaginosas (Castanhas de Caju e do Pará)
- Nozes
- Semente de abóbora
- Semente de girassol
- Semente de gergelim
- Vitamina C
- Frutas cítricas (laranja, tangerina, kiwi, morango, maracujá, limão, carambola, acerola, caju e goiaba)
- vegetais verdes escuros
Vitamina E
- Azeite extravirgem
- Castanhas do Pará e de caju
- Avelã
- Pistache
- Amendoim
- Amêndoa
Vitamina D
A nutricionista recomenda pegar sol diariamente – 15 minutos entre 10h e 16h – e avaliar, com exame médico, a necessidade de suplementação.
Ômegas 3 e 6
- Semente de linhaça
- Semente de chia
Ferro
- Vegetais verdes escuros
- Leguminosas
Fibras
- Legumes
- Frutas
- Vegetais
- Sementes e leguminosas.
Vitamina A
- Lácteos
- Azeite
- Frutas
- Legumes de cor laranja (abóbora e cenoura, damasco, tangerina, laranja)
- Ovos
O fator psicológico em jogo
Julia ainda aponta outra peça importante desse quebra-cabeça: com a pandemia, as pessoas vivem um momento de muito estresse, e muitos dos sintomas cognitivos também podem ser causados por ansiedade e nervosismo. Para entender esses sinais do corpo, a nutricionista recomenda observar há quanto tempo o desconforto aparece e se questionar se começou antes ou durante a pandemia.
“É preciso entender de onde vêm os sintomas. Na alimentação, a gente também fala disso. Se questione: da onde vem sua fome? É por medo de não conseguir pagar as contas por causa da pandemia? É excesso de trabalho? E a sua enxaqueca? É de estresse, de se cobrar demais, é por conta de dor de coluna, por algum alimento ingerido? Todos os sintomas precisam ser rastreados”, conclui a nutricionista.
Como fortalecer a imunidade?
A alimentação plant based também fortalece a imunidade e reduz a incidência de doenças cardiovasculares. A nutricionista acrescenta que o intestino é um órgão fundamental nesse processo por ser responsável pela nossa primeira resposta imunológica.
O intestino conta com bactérias positivas e negativas. Quando a pessoa começa um tratamento antibiótico, a barreira imunológica fica frágil e, com isso, há baixa na imunidade. Da mesma forma, quando a alimentação não está saudável, as células que ficam unidas na parede intestinal se abrem, deixando lacunas que permitem a absorção substâncias ruins, que antes seriam descartadas, pelo nosso organismo.
A base do intestino saudável é o consumo adequado de fibras (legumes, verduras, cereais, grãos, frutas e leguminosas), água (30 a 35 ml diários por quilo de peso), mínima quantidade possível de ultraprocessados. Os componentes químicos presentes nos ultraprocessados são desconhecidos pelo nosso organismo. Esses são os fatores fisiológicos possíveis de controlar. A nutricionista explica que existem ainda variáveis externas, como estresse, ansiedade e poluição do meio ambiente. Vale reforçar que uma imunidade alta não vai impedir necessariamente o contágio de doençaa como a Covid-19, mas pode promover mais saúde para enfrentar os sintomas da infecção.
Fonte: Julia Marques é nutricionista graduada pela UFRJ, pós-graduada em nutrição esportiva funcional e pós-graduanda em nutrição comportamental.
Fonte: EuAtleta