Durante a pandemia de coronavírus, houve um aumento de 14% no consumo de álcool entre adultos com mais de 30 anos nos Estados Unidos, segundo pesquisa publicada no fim de setembro no periódico científico JAMA Network, conduzida pela instituição sem fins lucrativos Rand Corporation. No Brasil, o aumento foi de 17,6%, de acordo com pesquisa realizada em parceria pela Fiocruz, Unicamp e UFMG e publicada no fim de maio. Durante este período de estresse e incertezas, as bebidas alcoólicas podem proporcionar uma sensação momentânea de relaxamento, entretanto é necessário cautela. Nos primeiros meses da pandemia, as redes de supermercado relataram aumento de 27% na venda de bebidas alcoólicas, o que acendeu um alerta entre os profissionais de saúde.
Afinal, segundo a Organização Mundial da Saúde, o consumo de álcool pode provocar problemas hepáticos, alterações cardiovasculares, aparecimento de diversos tipos de câncer e diminui a imunidade. Além disso, as bebidas influenciam diretamente nos sintomas depressivos, como explica a psicóloga Juliana Sato.
“O álcool é um depressor do sistema nervoso central. Se o uso é contínuo, a pessoa pode apresentar maior irritabilidade e sintomas depressivos, no caso da ansiedade, assim como os quadros depressivos tendem a aumentar os sintomas ansiogênicos também aparecem com mais frequência”, comenta a psicóloga.
Moderação é a chave
Segundo o endocrinologista Francisco Tostes, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, o limite de consumo de álcool é de 30 gramas por dia para homens e 20 gramas para mulheres, o equivalente a duas taças de vinho e dois chopes pra eles, uma taça e meia e um chope e meio para elas. E a recomendação é evitar as bebidas alcoólicas, no mínimo, duas vezes por semana.
“Beber todo dia é sempre uma preocupação, independente de quarentena. O álcool é metabolizado pelo fígado, então com o consumo, o órgão vai estar ocupado com isso e não vai metabolizar a glicose, o que pode gerar uma hipoglicemia. O álcool reduz o efeito dos remédios para pressão, então quem tem problema de pressão, deve evitar também a bebida alcoólica em excesso”, recomenda o endocrinologista.
Alerta para a imunidade
Durante a pandemia do Covid-19, a preocupação com a imunidade está redobrada. Logo, o consumo de bebidas deve ser repensado, já que afeta diretamente o sistema imunológico. O álcool influencia na absorção de nutrientes do nosso organismo, então todo o esforço em se alimentar bem pode ser comprometido com a ingestão de bebidas alcóolicas.
“O álcool é um depressor de imunidade e diminui a absorção de nutrientes que ingerimos na alimentação, então, o consumo além do permitido pode colocar a pessoa em risco, já que seu sistema imunológico não estará cem por cento”, explica Tostes.
Qualidade dos treinos
O consumo de bebidas afeta a qualidade dos treinos, já que o álcool tem efeitos tanto na saúde física quanto mental. Segundo Juliana Sato, a substância pode afetar o desempenho dos praticantes de atividades físicas devido ao tempo que o corpo demora para se recuperar.
“Com o consumo de álcool, o sono fica alterado e o apetite também fica desregulado, prejudicando o rendimento e o treino como um todo, pois o corpo não responde da mesma forma. A bebida impacta diretamente a rotina dos treinos, pois o corpo e a mente podem demorar para se recuperar, o que prejudica a qualidade de vida e a imunidade, que são tão importantes neste momento”, alerta a psicóloga.
Já o endocrinologista adverte que o consumo excessivo de álcool na véspera e no dia da atividade física afeta o desempenho, já que o efeito de ressaca pode alterar o humor e interferir negativamente na motivação dos esportistas. Ademais, o organismo pode apresentar prejuízos durante o processo de resposta e recuperação muscular.
“Quando ocorre o consumo de álcool, aumenta o tempo de resposta que o atleta tem, ou seja, ele fica mais lento. Isso atrapalha a performance e pode comprometer seu rendimento, além de aumentar as chances de lesões durante o exercício. Além disso, a bebida alcoólica altera o fluxo sanguíneo e o aporte do fluxo de nutrientes nos músculos. E diminui também a síntese de proteína, que é um mecanismo muito importante no processo de recuperação da musculatura pós exercício. Então, por uma modulação negativa dessa síntese e nessa operação do fluxo sanguíneo, a recuperação desse atleta fica pior, ou seja, ele vai se sentir mais exausto e por mais tempo”, explica Francisco Tostes.
Fonte: Globoesporte.globo.com