O endurecimento da quarentena anunciado na última sexta-feira (22) pelo governo paulista foi uma atitude necessária para conter o avanço da pandemia de Covid-19 no estado de São Paulo, afirmam especialistas da Unesp que acompanham os números da doença.
Desde segunda-feira (dia 25), todas as regiões administrativas do estado estão, até 8 de fevereiro, ou na fase vermelha (22% da população paulista) ou na fase laranja (78% da população paulista), as mais restritivas do Plano São Paulo.
Além disso, todas as regiões ficarão na fase vermelha aos sábados, domingos e feriados e também na noite e na madrugada de segunda-feira a sexta-feira, das 20h às 6h. Na fase vermelha, só é permitido o funcionamento de serviços essenciais, como hospitais, supermercados, farmácias e postos de gasolina.
Para embasar a decisão, o governo paulista mostrou, em entrevista coletiva realizada no Palácio dos Bandeirantes, na capital, indicadores que evidenciam o aumento nas últimas semanas dos números de novos casos, novas internações, novos óbitos e de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) em decorrência da Covid-19.
Tais indicadores estão pressionando o sistema de saúde paulista e os profissionais de saúde que estão na linha de frente do combate à pandemia. Segundo o governo paulista, se nenhuma medida fosse tomada, haveria risco de “colapso”. O estado de São Paulo registra, até o momento, 1.679.759 casos e 51.192 óbitos relacionados à doença.
“Foi uma medida correta e corajosa porque as resistências são enormes. Isso é necessário para frear o processo de aceleração e aumento da taxa de contágio no estado”, afirma o professor Raul Borges Guimarães, geógrafo da saúde, um dos pesquisadores envolvidos no projeto Radar Covid-19, que monitora o avanço da doença, e pró-reitor de extensão e cultura da Unesp. “A gente vem atualizando a taxa de contágio por região e estamos, neste momento, vivendo o reflexo do comportamento de parte da população nas festas de final de ano”, diz Guimarães.
As medidas restritivas recém-divulgadas foram acompanhadas pelo anúncio da abertura de 756 novos leitos de UTI no estado e da reativação a partir de fevereiro de um hospital de campanha na comunidade de Heliópolis, a mais populosa da capital paulista. Integrante do Centro de Contingência que reúne cientistas que estão ajudando a orientar as políticas públicas a serem adotadas pelo governo paulista, o professor Carlos Magno Fortaleza, epidemiologista da Faculdade de Medicina do câmpus de Botucatu da Unesp, afirma que o governo paulista tomou a medida baseado na recomendação dos cientistas.
“Fizemos várias análises e a única dúvida é se não deveria colocar todas as regiões do estado em vermelho de uma só vez. Ainda assim, é uma medida com uma restrição razoável”, afirma o professor Carlos Fortaleza. “Cada transmissão, individualmente, ocorre após um encontro de duas pessoas próximas, não protegidas, geralmente por longo tempo. Cada vez que você reduz os encontros você está protegendo as pessoas”, diz.
Durante o anúncio feito pelo governo paulista, do qual participaram o governador João Doria, o vice-governador Rodrigo Garcia, secretários estaduais e integrantes do Centro de Contingência para o combate à Covid-19, o secretário estadual de educação, Rossieli Soares, adiou o início do ano letivo de 2021 para os estudantes da rede estadual de ensino de 1º de fevereiro para 8 de fevereiro, mas classificou a atividade educacional como “essencial” e manteve a reabertura das escolas do ensino básico com possibilidade de até 35% de ocupação nas salas de aulas. No atual cenário epidemiológico, entretanto, nenhum aluno está obrigado a ir para a escola e as instituições de ensino têm de buscar formas para garantir o ensino remoto durante este período.
“Não podemos colocar em risco o corpo docente e o corpo técnico-administrativo, mas, como vai demorar muito tempo para que possamos ter uma porcentagem significativa da população imunizada, é importante buscar maneiras seguras para se fazer alguma coisa (em relação às escolas), até para preservar a saúde mental dos nossos alunos”, afirma o médico Sergio Swain Muller, docente da Faculdade de Medicina da Unesp, que atualmente está afastado para trabalhar na Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Raul Guimarães, Carlos Fortaleza e Sergio Muller integram a nova formação do Comitê Unesp Covid-19, instância que durante a atual pandemia está coordenando o dia a dia na Universidade de acordo com as normas sanitárias em vigor e zelando pela segurança e pela saúde de todos da comunidade unespiana. Nesta semana, o comitê já se reuniu com o reitor Pasqual Barretti, a vice-reitora Maysa Furlan e todos os pró-reitores para debater propostas para as atividades universitárias e o ano letivo de 2021, agenda que será intensificada nos próximos dias.
“Uma atitude como esta (do anúncio de medidas mais restritivas para o estado) pode ter reflexos positivos para meados de março e início de abril (período de matrículas em 2021)”, afirma Raul Guimarães. “Temos que nos apoiar nessas diretrizes (para a educação básica) para pensar o ensino superior”, diz o epidemiologista Carlos Fortaleza. “Temos que diferenciar educação básica do ensino superior. São realidades muito diferentes. Mas o comitê vai ter que fazer uma reflexão a respeito disso”, acredita Sergio Muller.
O calendário das unidades universitárias da Unesp para o ano letivo de 2021 está sendo planejado em alinhamento com o Comitê Unesp Covid-19. O plano de retomada das atividades presenciais, elaborado pelo comitê no segundo semestre de 2020, segue as diretrizes do Plano São Paulo, do governo estadual, e poderá ser alterado se houver mudança significativa no cenário epidemiológico.
Neste momento, em que observamos o recrudescimento da pandemia, o cenário mais provável para o início do ano letivo de 2021 na Unesp é o prosseguimento das aulas remotas, com a manutenção das ações de inclusão digital.
De acordo com informações da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd) da Unesp, o segundo semestre do ano letivo de 2020 está sendo finalizado com cerca de 95% das disciplinas da graduação ministradas (finalizadas ou em andamento) e, no primeiro semestre do ano passado, foram finalizadas 2.605 disciplinas de forma remota.
Fonte: Portal do Governo do Estado de São Paulo