Sentir dor no peito durante um exercício é algo relativamente comum. Mas o médico cardiologista Emílio Siqueira explica que muitas vezes as dores são apenas sinais de gases acumulados devido à execução errada da atividade física, como correr e conversar ao mesmo tempo, por exemplo. Como os sintomas nesse caso surgem na região abdominal, assim como algumas situações de infarto, eles podem gerar confusão. Apesar disso, o médico salienta que uma dor na região do tórax jamais deve ser negligenciada, especialmente se acompanhada por outros sintomas, como explicaremos abaixo, e que uma avaliação médica sempre é necessária nesses casos.
“Por causa da prática errada do exercício físico é comum a pessoa ter uma distensão gasosa na região do estômago e do intestino, gerando essa famosa dor na região abdominal superior, que pode ser confundida com o infarto. É importante lembrar que normalmente a dor do infarto é muito mais forte que as causadas pelo acúmulo de gases. Além disso, ela impossibilita qualquer prática de esforço, de atividade física”, orienta o médico.

Mas quando as dores persistem e são acompanhada por um ou mais sintomas que serão dissecados abaixo, deve-se acender um sinal vermelho em relação a um infarto e procurar assistência médica imediata. Um eletrocardiograma, exame de sangue para medir as enzimas cardíacas e tomografia de tórax devem ser feitos urgentemente para se ter um diagnóstico preciso.
Sintomas
O infarto é a obstrução de alguma das artérias que vascularizam o coração, as chamadas artérias coronárias. Essa obstrução pode gerar uma isquemia, que é a falta de sangue no coração, levando a um infarto agudo do miocárdio. A partir daí, o profissional explica como as dores podem surgir em regiões que não necessariamente sejam na área torácica.
“O que poucos pacientes sabem é que, dependendo da artéria acometida, essa dor do infarto será sentida numa região diferente do corpo. A dor, além da mais conhecida, dependendo da situação pode ser na área da chamada ‘boca do estômago’, que na medicina chamamos de região epigástrica. A pessoa também pode sentir dores na mandíbula, que leva alguns pacientes até a confundirem com a dor de dente. Também pode ser uma dor no dorso, ou seja, na parte de trás. E há quem sequer apresente dor, sendo que neste caso pode-se desconfiar, por exemplo, de um quadro de dispneia, a famosa falta de ar. Lembrando que a dor vai sempre estar relacionada a algum tipo de esforço físico e o paciente pode ter uma sensação de eminência de morte” explica o médico, que enumera os sinais abaixo:
- Dores agudas ou aperto no peito, normalmente persistentes, que podem irradiar para pescoço, mandíbula, costas, ombro e braço ou esquerdos;
- Sensação de queimação ou pressão no peito;
- Dores na boca do estômago e de cabeça;
- Falta de ar;
- Formigamento do braço esquerdo;
- Taquicardia;
- Vômitos ou náuseas;
- Sudorese;
- Ansiedade;
- Tontura e desmaios;
- Desconforto abdominal.
Cuidados que alguém deve ter para manter o coração em bom estado
- Manter a pressão em 12×8;
- Beber no mínimo dois litros de água por dia, pois isso estimula a bexiga a urinar com frequência e elimina o sal do organismo, evitando que a pressão arterial aumente;
- Evitar sal ao máximo. Também é recomendável que se evite o consumo de margarina ou manteiga com sal, e óleo em abundância na hora de fazer alguma fritura. Além disso, ao invés de fritá-las, prefira consumir batatas, pasteis ou outras comidas que sejam feitas no forno;
- Praticar atividades físicas aeróbicas;
- Manter bons níveis de colesterol e triglicerídeos;
- Tentar evitar o estresse;
- Manter acompanhamento médico;
- Fazer exames anualmente.
Ansiedade e infarto: como diferenciar?
Também é comum entre quem sofre clinicamente de ansiedade ter sensações que parecem muito com um infarto, como taquicardia e até formigamento do braço. Emílio Siqueira admite que os sintomas em ambos os casos são bem parecidos. Para tirar essa dúvida, o cardiologista orienta que a pessoa ansiosa faça um eletrocardiograma como “pontapé inicial” para realmente saber o que ela tem. Afinal, pessoas que sofrem de ansiedade podem também sofrer ataques cardíacos.
Mitos, explicações e o que deve ser feito
Tosse – Mito
Em época de redes sociais, muitos compartilham informações sobre o que deve ser feito caso alguém esteja sofrendo um infarto. Uma das “dicas” é tossir de propósito para evitar o agravamento do problema. O cardiologista é enfático ao dizer que tal afirmação é mentirosa.
“Isso é mito. E digo mais, tossir de propósito pode levar à sérias e gravíssimas complicações. Tudo que um paciente não pode fazer é se esforçar e, se ele se esforça muito para tossir, pode ser prejudicado. Além disso, nunca deve-se forçar o paciente a espirrar ou vomitar”, alerta o médico, que também explica: “O infarto é a morte do músculo cardíaco por conta do sangue que não chegou lá, gerando a necrose. Essa morte do tecido cardíaco é que deve ser tratada. Obviamente, o infarto tem que ser tratado antes do músculo cardíaco morrer. Nós, médicos, temos um tempo para desobstruir as artérias do paciente e evitar que esse músculo cardíaco morra. E ai a gente consegue, tratando adequadamente, evitar a morte do músculo cardíaco”.
Princípio de infarto – Mito
Outro ponto abordado por Siqueira é sobre a expressão “princípio de infarto”. Segundo o cardiologista, esse termo não existe, pois ou o paciente infarta, ou não. Da mesma forma, ele explica que não existem tipos diferentes de infartos, e sim tratamentos diversos. A confusão ocorre porque existem várias formas de cuidar desse mal, sendo todas em nível hospitalar, como medicamentos injetáveis ou procedimentos cirúrgicos, como a angioplastia.
Quanto mais rápido o atendimento, maiores as chances de sobrevivência – Verdade
Por fim, Emílio Siqueira orienta que é sempre bom a pessoa estar acompanha caso tenha algum mal estar. No caso de alguém morar sozinho, ele recomenda um ou mais contatos de confiança do prédio, vizinhança e arredores. Nesta situação específica, o cardiologista orienta que quem está se sentindo mal deve ficar de repouso o máximo possível enquanto aguarda assistência médica ou a chegada de alguma ambulância.
“Quando a pessoa está infartando o que deve ser feito imediatamente é levá-la ao hospital. Qualquer demora pode atrasar o tratamento e levar o paciente para complicações mais sérias ou até a morte. Não tem problema tomar um AAS, o Ácido Acetilsalicílico, aquele remedinho barato que quase todo mundo tem em casa. Só não pode é perder tempo procurando o remédio em casa, em caixas muitas vezes escondidas, gastando um tempo precioso para o seu socorro. Outro ponto importante é que o corpo deve ser mantido em repouso. Tem gente que quer ir para o hospital andando (ou dirigindo), o que é um absurdo. Quando chegar lá, o ideal é se locomover de cadeira de roda, evitar ao máximo até andar e já ir direto para o serviço especializado para fazer o diagnóstico e, se for o caso, o tratamento”, orienta Siqueira.
Fonte: G1.globo.com