Quando as temperaturas caem, a sensação de fome e o apetite por alimentos calóricos sobem. Isso ocorre porque o metabolismo humano tenta compensar a variação da temperatura corporal, que, na normalidade, oscila entre 36 °C e 37 °C, o que aumenta o consumo calórico e desencadeia a demanda por alimentação.
Por que sentimos mais fome no frio?
Quando exposto a baixas temperaturas no ambiente, o corpo perde calor, em uma tentativa de se equilibrar com o meio externo. Sem a temperatura ideal para o funcionamento do organismo, muitos processos e reações essenciais para a manutenção da vida não podem acontecer. Por isso, o corpo passa a produzir calor, buscando se esquentar, o que resulta em maior gasto calórico.
“Quando a temperatura corporal começa a cair, imediatamente se inicia uma cascata de reações corporais que se iniciam com a vasoconstrição – ou seja, a redução de fluxo sanguíneo em vasos sanguíneos de mãos, pés e rosto – e o aumento de movimentação muscular com tremores involuntários ou mais movimentação corporal voluntária. Esses processos fazem com que o gasto calórico corporal aumente por meio do processo de termogênese, ou seja, da produção de calor pelo corpo”, explica a médica nutróloga Laura Mocellin.
Com o gasto calórico maior para se manter aquecido, a percepção de aumento de apetite não é ilusória: faz parte de uma estratégia do sistema nervoso para garantir que o organismo receba os nutrientes necessários para o novo padrão de consumo de calorias.
“No frio, os receptores térmicos da pele enviam estímulo para o sistema nervoso em uma área específica: o hipotálamo, glândula que fica na base do encéfalo (parte do crânio) e é responsável pelo controle da fome (e também da temperatura) por meio de neurotransmissores e hormônio, gerando o aumento do apetite”, explica a endocrinologista e metabologista Érica Oliveira.
No entanto, a elevação do gasto calórico em climas frios não é uma garantia de perda de peso, uma vez que existe, no ser humano, uma tendência comportamental e fisiológica de não realizar exercícios físicos e atividades que gerem alto gasto de energia nessas condições, o que pode levar o indivíduo a ganhar peso. A manutenção ou a alteração de peso nesses casos vai depender, portanto, dos hábitos cotidianos e das práticas alimentares de cada pessoa.
É fome ou vontade de comer?
O clima frio e a baixa incidência de luz solar também podem influenciar processos psicológicos, podendo levar à tristeza, ao desânimo e à ansiedade, a exemplo do Transtorno Afetivo Sazonal – quadro depressivo recorrente nos meses mais frios do ano.
Isso acontece porque o sol é essencial para ativação de vitamina D na pele e posterior estímulo para produção de dopamina e serotonina, substâncias responsáveis pelos sentimentos de alegria e prazer.
Essas alterações metabólicas, causadas pela alteração da temperatura externa, provocam mudanças nos hábitos alimentares da população, podendo levar ao desejo aumentado por alimentos de fácil digestão, como carboidratos, que fornecem energia de forma rápida, além de comidas que ofereçam conforto emocional, como doces e alimentos gordurosos. É importante estar atento a essa tentação.
Para diferenciar a fome emocional, popularmente conhecida como “vontade de comer”, da necessidade fisiológica do organismo, a nutróloga faz a seguinte recomendação:
“Tente perceber se a fome é por alimentos muito específicos, sem a sensação de “estômago vazio” ou fraqueza. Se ocorrer diversas vezes por dia, mesmo após já ter se alimentado, e se for em momentos de maior estresse emocional, ansiedade ou ócio, provavelmente essa fome é emocional”, analisa Laura.
Risco de ganho de peso no inverno
A busca pela satisfação do prazer por meio do consumo de alimentos calóricos ou em grandes quantidades e a indisposição para atividades físicas no inverno podem levar a ganho de peso.
O motivo para isso é que, cessando a prática de atividades físicas, o organismo reduz a liberação de endorfinas ao longo do dia, o que pode gerar um aumento da ansiedade e do desejo de comer.
Apesar das baixas temperaturas provocarem indisposição, ou até mesmo sono, é essencial manter a prática regular de atividades físicas, o que também serve para que o corpo não precise gastar muita energia tentando se aquecer.
Além disso, é importante atentar para a ingestão adequada de água, evitando desidratação. A atenção deve ser redobrada, já que, nesses períodos, a tendência é sentirmos menos sede, pois a perda de líquidos pelo suor e pela transpiração é menor do que em épocas de calor.
O que beber e comer no frio
Neste caso, bebidas quentes como chás são bem-vindas, sobretudo as que contêm uma variedade de especiarias com potencial termogênico, como pimenta, canela, gengibre e cacau.
Para ter a sensação de saciedade sem ganho considerável de peso, é recomendado o consumo de alimentos com alta densidade nutricional e baixa densidade calórica, como vegetais folhosos e legumes, conforme indica a nutricionista Ana Paula Arantes.
“Podem ser consumidas no jantar sopas com legumes e uma fonte de proteína ou canja. Fibras e proteínas nessas refeições ajudarão bastante na saciedade. Para os lanches, pode fazer preparações com frutas e receitas mais quentes, como panqueca de banana e bolo integral ou mingau de aveia e banana. Há ainda o benefício da aveia, que tem a betaglucana, uma excelente fibra responsável pelo aumento de saciedade e com uma função prebiótica”.
Receita de mingau de aveia proteico
Ingredientes:
- 200ml de água
- 3 colheres de aveia em flocos;
- 1 scoop de whey protein de sua preferência;
- 1 banana amassada;
- Canela a gosto;
- 1 xícara de leite vegetal ou desnatado (opcional).
Modo de preparo:
- Misture aveia com whey protein em 200ml de água morna e deixe descansar por 10 minutos (isso deixa mais cremoso)
- Depois, acrescente a banana amassada e a canela;
- Misture em fogo baixo até ficar uma mistura mais grossa (acrescente água aos poucos para obter a textura que desejar);
- Se quiser adoçar, use uma colher de sopa rasa de adoçante em pó.
Fontes:
Ana Paula Arantes é nutricionista do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais). É formada em Nutrição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pós-graduada em Nutrição Esportiva e Estética.
Érica Oliveira é endocrinologista e metabologista do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais)/PA. É médica formada pela Universidade Federal do Pará (UFPA), com certificação em andamento na área de Medicina do Esporte pela American College Medicine of Sports (ACMS).
Laura Mocellin é nutróloga do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais)/SP. Médica pós-graduada em Nutrologia, atuante na área de transtornos metabólicos e hormonais, emagrecimento e longevidade saudável.
Fonte: EuAtleta